22/07/14

Happy days with Pixie


Quando criei a Trela e Companhia decidi que todas as comunicações seriam alegres e deviam evidenciar quão boa é a vida junto dos nossos bichos de estimação. Lembro-me que na altura o Facebook mostrava muitas fotos das desgraças dos apelos (que infelizmente continuam a ser imensos) e quis apenas ter posts felizes ou quanto muito informativos/educativos. É importante que se celebre e incentive os momentos maravilhosos que passamos com os nossos cães (e gatos).

Mas hoje finalmente ganhei coragem para partilhar convosco um post triste. E porquê? Porque sinto que vos devo uma explicação do meu silêncio dos últimos meses. Quem me acompanha desde 2011 notou a diferença e agradeço desde já a todas as pessoas que mostraram as saudades da minha actividade no blog e no facebook da Trela e Companhia.
Por sentir esse vosso carinho hoje partilho convosco que a minha querida Pixie partiu.
Já não está fisicamente comigo mas está comigo no meu coração.
Nos últimos meses estivemos a lutar contra um maldito cancro. Foi triste, foi muito duro ver uma doença terrível a roubar-me a minha menina-mais-que-tudo. Não tenho palavras meigas para o cancro e na verdade não tive palavras para partilhar na trela esta luta por isso estive mais ausente.  

A Pixie foi só um cão. Verdade. Mas para mim não. Foi o cão que toda a vida pedi para ter. Não foi o primeiro que escolhi, foi o que tinha de vir. A nossa história não é longa mas apenas em 6 anos temos tanta, mas tanta coisa para contar. A Pixie não foi só um cão. Foi o bicho que mudou a minha vida radicalmente. Se hoje vos escrevo este post foi por culpa dela. Ela é a cara do logotipo da Trela e Companhia, no mínimo. Na verdade a energia e espírito da trela não se dissociam da Pixie. Por causa dela descobri um mundo muito melhor e pessoas maravilhosas. A Pixie ensinou-me mais da vida que muita gente, sem menor margem para dúvida.
Nem sempre fui a melhor dona, nem sempre nos entendemos mas fico feliz por ela me ter obrigado a aprender a comunicar com ela e chegar a entendê-la melhor que ninguém. Graças a ela sou uma dogaholic assumida... Geek dos cães, como me chamam alguns amigos. Há uma Míriam antes e outra depois da Pixie.

Orgulho-me de dizer que, na verdade, já não achava que fizesse falta ela falar uma vez que conversávamos imenso. Se há coisa maravilhosa neste mundo é ter a cumplicidade de um cão. De sairmos para passear as duas e ligarem-me a saber se nos tínhamos perdido porque íamos só lá a baixo num instante levar o cão à rua.. tantos momentos e sempre tão bons. A Pixie sempre tão meiga, quanto malandra e ultra-esperta! Uma vitamina de boa disposição e de energia. Sem dúvida, do melhor que este mundo tem.

A vida gosta pregar partidas e é mesmo verdade que não podemos fazer planos para além de 5 minutos... A Pixie tirou um nódulo em Novembro no peito que afinal era cancerígeno (Mastocitoma de Grau II). Fez quimioterapia durante três meses. Quando pensava que já só íamos voltar para as vacinas, o cancro afinal estava de volta... Mais dois gânglios. Nem um mês tinha passado da última quimioterapia... Retomámos novo protocolo de quimioterapia. O cancro ora ficava mais tímido e os gânglios mais pequenos (e temos sempre esperança!), ou de uma semana para a outra explodia e aumentava. É uma verdadeira luta. E se as pessoas não merecem ter cancro os animais muito menos. Houve momentos de tristeza profunda. Não posso deixar de dizer que, felizmente este processo custou-me muito mais a mim que a ela. Além do mais, ela nunca soube que tinha cancro por isso durante vários meses esteve igual como se nada fosse. Brutal como me ensinou um montão de coisas sem nunca me ter dito uma única palavra.

Não pude infelizmente passar eu por tudo isto em vez dela. Claramente, passei a entender melhor as mães. Contudo, não pude explicar-lhe, como se fosse uma criança, o que se passava. Porque tínhamos de ir ao veterinário todas as semanas, porque tínhamos de levar aquelas picas. Porque tínhamos, a dada altura de tomar aqueles, 9 comprimidos por dia, todos os dias. Se ela esta parte ela não entendia, eu compensava dando-lhe sempre muitas salsichas no veterinário e os comprimidos em queijo fundido... Muitas associações positivas!! ...isso e todos os mimos que um cão merece.
 
Sempre que saíamos da quimioterapia íamos passear ao parque. Talvez não fosse o mais indicado correr atrás de bolas de ténis depois de uma quimioterapia. Mas como negar o passatempo favorito dela se ela estava bem-disposta a correr pelo parque? Aliás, o meu foco passou a ser fazê-la feliz. Passeávamos muito, aproveitámos os parques, corria atrás da bola até aguentar. Lembro-me de comentar com o Veterinário que havia dias que tentava poupa-la porque tinha medo que não lhe fizesse bem, mas na verdade não resistia que aquele sorriso era tudo o que mais queria ver. Ela pedia tanto para brincar. “Posso brincar assim, Doutor?” “Se vê que ela está bem-disposta, brinque com ela.” Então, não atirava a bola para longe, mas para mais perto, para que pudesse ir buscar mais vezes antes de se cansar. O entusiasmo era tanto que cheguei a pensar “ai que me morre a correr louca atrás da bola!”. Morreria feliz. Não podemos poupar-nos a sermos felizes nesta vida. Não podemos perder estes momentos. Sempre que possível lá íamos nós “sacudir o cancro” a ver se se cansava. Mas não cansou.
Não posso deixar de agradecer todo o carinho atenção de TODA a equipa de médicos e enfermeiros do Centro Veterinário Berna, nomeadamente do Dr. Joaquim Henriques e da Dra. Patrícia Duarte. Foram incansáveis, impecáveis e extremamente dedicados com a minha Pixie (e comigo também). Todo o seu apoio tornou esta luta bem mais fácil. Estávamos juntos.

Infelizmente, a quimioterapia não surtiu efeito e passamos para um comprimido mais forte específico para o cancro (o Masivet). Normalmente os cães reagem bem a quimioterapia mas não tivemos essa sorte. Acho que o cancro gostou dela também. Besta.
Sou teimosa e optimista. Sei que fiz tudo o que pude para lutar contra este cancro, assim que fiz tudo o que podia para que ela continuasse feliz. A minha mãe é Médica Ginecologista, especialista em Oncologia, mesmo sem perceber nada de veterinária ou bichos disse-me um dia: que a Pixie não sabe que tem cancro. Não tem filhos para ver crescer, não tem uma casa para acabar de pagar, não tem preocupações como as pessoas, já viste?... ela vive apenas o Hoje contigo. E no cancro não interessa a quantidade de vida, interessa a qualidade de vida e isso só depende de ti.

Naqueles dias em que me afogava em lágrimas e dúvidas, olhava para ela e ela ali estava. Feliz a viver o hoje. Os cães são tão fortes. Pixie my super Dog. Por isso fiz o que pude para que o cancro não nos impedisse de ser feliz. Daí o happy days with Pixie. Foi o lema que nos impus de forma que os nossos dias (fossem quantos fossem) fossem apenas isso felizes. E assim foi.

Na última semana o corpo começou a ressentir. Começou a vomitar. Mais prostrada, esperei que espevitasse, havia sempre alturas que ficava mais prostrada mas voltava sempre. A Pixie sofreu apenas uma semana. Estava prostrada, perdeu o apetite e fazia o que podia para lhe dar de comer para que tomasse os comprimidos. No Sábado no passeio da manhã ela a meio não quis passear, deitou-se na sombra de uma arcada de um prédio. A pata mais próxima dos gânglios no peito estava a inchar. Nessa manhã não comeu e voltou a vomitar. Liguei ao Veterinário e era melhor ela ser vista novamente, apesar de ter lá estado na véspera a levar uma injecção de cortisona e outra para ver se parava de vomitar. Se ela comesse podíamos tentar dar um comprimido ainda mais forte...

Para quê? A Pixie já não estava bem, desta vez não espevitou. Não suportava vê-la assim. De repente, deixei de ter dúvidas e tive uma única certeza. Tinha chegado o momento de deixa-la partir. Eu iria sofrer sempre, por isso não queria vê-la sofrer mais. Fomos ao veterinário e dei o último passeio com a minha Pixie. Ela seguiu viagem para um sítio muito melhor. Ficámos finalmente em Paz.
Agradeci-lhe muito por ter mudando radicalmente a minha vida, por causa dela descobri um mundo muito melhor e pessoas maravilhosas. Se hoje sou feliz foi a Pixie que me ensinou. Mais ninguém. Quem teve o privilégio de conhecê-la sabe bem que o melhor truque dela era arrancar sorrisos! (Agora mesmo arrancou mais um!) ..tão linda!  
Estou muito feliz por ter percebido que a Pixie não foi só mais um cão. Viveu apenas 6 anos, mas sei que foram 6 anos cheios, felizes e que não passaram indiferentes a muita gente. Tudo o que ela me ensinou, procuro através da Trela partilhar com os donos e com os outros cães (e gatos). Orgulho-me que já mudei a vida de alguns cães para melhor. E se fiz isso, foi porque tive o verdadeiro privilégio de ser dona da Pixie desde o dia em que a adoptei e levei aquele cachorrinho maluco de 3 quilos lá para casa.

Disseram-me que os cães tiram o melhor de nós cá para fora. Sem dúvida! Apenas precisamos deixar que isso aconteça. Por isso vivam o Hoje com os vossos cães e sejam felizes (e façam-nos felizes também).
Muito obrigada por todo o carinho e apoio de todos que estiveram comigo nesta luta. Fez mesmo toda a diferença. Contem comigo sempre que um dia precisarem.

Míriam
#happydayswithpixie

3 comentários:

  1. Beijo muito grande! Não tive o previlégio de conhecer a Pixie, contudo gostaria que tivesse o previlégio de conhecer a Sally, o Tiogo e Beca.
    Teresa Sousa

    ResponderEliminar
  2. Fiquei de lágrimas nos olhos. A pixie teve muita sorte por te ter como dona! E de certeza, que viveu sempre feliz! ❤️

    ResponderEliminar
  3. Sei o que é tomar a decisão de deixar partir um companheiro de quatro patas. No meu caso foi uma gata, a minha primeira gata. Sei como é difícil vê-los sofrer, perder a esperança vã que as coisas ainda mudem para melhor, e simplesmente deixá-los descansar. É devastador... e apesar de termos 99% de certeza que fizemos a coisa certa, fica sempre lá aquele 1%, aquele idiota daquele 1%, que nos sussurra "E se eu tivesse aguentado mais um dia, será que ela dava a volta por cima?"... É irracional, mas o amor nunca teve fama de ser racional.

    Tudo o que fazemos por eles, fazemos por amor. Porque animais somos todos, e não acho correcto criar uma barreira entre espécies para nos diferenciarmos deles. Somos todos animais, e os nossos patudos são nossos filhos. Por isso, a dor que sentimos quando eles partem fica cá para sempre. É uma dor que o tempo apenas atenua, mas volta tão forte como um estalo na cara quando olhamos para uma foto ou nos lembramos deles por algum motivo. Pode até ser uma memória feliz, mas a seguir vem sempre a dor da separação e a dúvida.

    A Pixie e a minha Lili foram duas sortudas! Tiveram vidas plenas e felizes... é tão importante, a felicidade. Essa é uma certeza que podemos ter, que fizemos tudo para que eles fossem felizes, e sabemos que o foram. É o que nos dá alento.

    Beijinhos e força... eles ficam para sempre no nosso coração, mas enquanto cá estamos, há mais patudos que dependem de nós para serem felizes :)

    ResponderEliminar